terça-feira, dezembro 11

a trajetória

vinte e quatro minutos se passaram
quase metade do tempo previsto
e eu cruzo a linha de chegada rapidamente
agora acabou, não há mais para onde ir
sento-me e aguardo aflito
curioso por saber o que acontecerá em seguida
outros passarão por este mesmo caminho
será que serão mais ágeis que eu
ou permanecerão perdidos nesta rota até a eternidade?

quarta-feira, dezembro 5

lembranças

lembro-me de ter acordado chorando uma única vez
abri meus olhos lentamente, e então uma lágrima escorreu sobre meu rosto, secando em meu travesseiro
nada havia acontecido, tive apenas um sonho ruim
sonho não acontece, é inventado pela imaginação
naquela época as coisas eram diferentes
eu dormia em cima, mais perto do céu
perto do céu, mas longe de você
somente o que nos aproximava era a linha telefônica
e foi através dela que me acalmei do pesadelo inventado
agora volto a dormir, e o telefone
ah, este já não nos aproxima mais.

quarta-feira, junho 20

hoje bateu uma saudade. saudade diferente. saudade da presença, da companhia, de ter por perto. saudade da voz, do cheiro, da proporção que o ar toma com o peso de uma respiração a mais. saudade de compartilhar filmes, músicas, até mesmo o tédio. saudade de saber que logo, logo, mataria a saudade.

sexta-feira, maio 18

histórias

eu gosto de histórias. gosto de ouví-las atentamente, não importa de que forma sejam contadas. gosto de conversar com as pessoas, assistir os filmes, ler livros, ouvir música. mas o que me fascina não são os sons, as letras, as imagens, as conversas...o que me fascina são as histórias contadas. histórias de amor, de perda, de vida, de sorte; histórias fictícias, histórias reias. não há nada que me alegre mais do que ouvir uma bela história.
eu não sei contar histórias, não possuo este talento, mas se me perguntam para que nasci e para que vivo, tenho a resposta na ponta da língua: nasci para ouvir histórias e isso que me mantém viva. anseio cada dia por uma nova história a ser ouvida.
há momentos da noite em que acordo com o som do trem. o barulho balança o meu apartamento. às vezes, parece que ele vai me levantar da cama. eu ouço aquele grande trovão e depois o silêncio. eu estou sozinha. estou sozinha na cidade que faz as pessoas se sentirem velhas e usadas. mas, de certa forma, eu tenho sorte. mesmo nos momentos mais sombrios, eu sempre consigo sobreviver.

(winter passing)

sexta-feira, maio 11

escape

hoje, pela manhã, fiquei deitada por muito tempo numa mesma posição, mesmo depois de acordada. permaneci imóvel por muitos minutos, era uma posição confortável, que me dava uma ligeira impressão de não existir.
sentia minhas pernas pousadas na cama, como se as sentisse de fora e não pertencessem ao meu corpo. eram pesadas, não existia em mim força suficiente para levantá-las. meu braço direito estava para fora da cama, algo que geralmente me traz desconforto, mas dessa vez era diferente, parecia nem estar presente.
em meu rosto, queria abrir os olhos mas não conseguia. tentativa inútil! pareciam vendados, presos por uma força além de mim. meu coração batia ao longe, impotente, debilitado. tentava trazer energia ao meu corpo todo, coitado, mal trazia energia a si próprio.
depois, parei de pensar, me desliguei de tudo o que senti e algo finalmente me fez levantar as pálpebras. estava deitada, no chão de um cômodo vazio, na posição exata que estava na cama minutos antes. as paredes eram brancas, de um branco reluzente, ofuscavam meus olhos. tive a sensação de estar nua, talvez estivesse, e estava leve, livre de qualquer pensamento, preocupação, dor.
fechei os olhos serenamente e tudo escureceu.
quando abri novamente, estava na mesma cama de antes, porém havia mudado de posição.
o que aconteceu? continuo me perguntando.
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acho que apenas morri por um instante.