A Espera
Sozinha aguardava...
Não tinha nem fome, nem sede, só anseio por mudanças. Apesar disso, pediu um café, na busca de qualquer atrito que pudesse agitar aquele vazio que se acomodava cada vez mais.
Não sabia qual seria seu próximo passo, sem a única certeza que lhe restava. Sem forças para levantar, permaneceu, pretendendo passar a noite inteira sentada naquele café...
Aline Siqueira
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a espera do fim do mundo...
diziam que aquele seria o último dia, que o mundo acabaria... então resolveu ir ao restaurante Automat, sentar e esperar... antes, como um autômato, dirigiu-se a uma máquina, enfiou-lhe uma moeda e serviu-se daquela bebida que tanto apreciava... enquanto degustava aquela que poderia ser sua última xícara de café, pôs-se a pensar na sua vida... não se importava muito se o mundo realmente fosse acabar... sentia-se indiferente frente a tudo... o mundo havia tomado um rumo que não lhe agradava... e sua vida também... solteira, com poucos amigos e muitas desilusões, havia se fechado em si mesma... ensimesmada, portanto, permanecia... o café estava amargo... na verdade, não gostava de adoçá-lo... já havia se habituado à amargura... permaneceu também de costas para a rua... pouco lhe importava o que estivesse acontecendo do outro lado do vidro... preferia não ver... além disso, se o apocalipse de fato ocorresse, apenas o sentiria e pronto... mas não havia nenhum sinal de que algo realmente mudaria... aparentemente o mundo continuava o mesmo... o mundo e seus habitantes humanos, que seguiam agindo como se fossem verdadeiros autômatos, sem vontade alheia, sem reflexão, sem ação... precisava lidar com essa questão... tomou outro gole de café e continuou esperando...
Tiago Elídio...
Edward Hopper - Automat, 1927